"O verbo ler não suporta o imperativo"
Daniel Pennac
Para Morshida (1997) , o jogo que tinha a função de desenvolver fantasias, com caráter de gratuidade, é, atualmente, canalizado para uma visão de eficiência, visando à formação do "grande homem de amanhã", e torna-se, em decorrência disso, "pago". A especialização excessiva dos "brinquedos educativos", dirigidos ao ensino de conteúdos específicos, está retirando o jogo de sua área natural, eliminando o prazer, a alegria e a gratuidade, ingredientes indispensáveis à conduta lúdica.
É na interação com os outros que se desenvolve uma aprendizagem fundante com a comunidade, seja através da estrutura da linguagem, da música, da arte, dos jogos e brincadeiras e de toda uma história coletiva, que também são essenciais para o desenvolvimento cognitivo de todas as crianças. É através também da compreensão de todos esses elementos culturais reunidos que começamos a apreciar o sentido complexo do desenvolvimento da criança – no seu crescimento emocional, social, físico, enfim no seu crescimento humanístico que pode lhes ensinar e nos ensinar, educadores, sobre as nossas tantas potencialidades.
Na educação infantil e nas séries iniciais as crianças estarão vivendo um processo continuo de criação e recriação com a linguagem, com a oralidade, com a leitura e a escrita. E esse processo tem como premissa o potencial criativo de quem vê o mundo, lê o mundo e o imagina reinventando a si mesmo. É de fundamental importância que o “brincar” faça parte desse processo, não apenas como apêndice para os conteúdos dos livros didáticos, mas como parte fundamental da aprendizagem da criança. Vygostsky (1998) afirmava que as atividades com brinquedos e brincadeiras eram de suma importância para criação do imaginário das crianças. Pois o imaginário se desenvolve quando se dispõe de experiências que se reorganizam em situações interativas que estariam presentes nos contos, nas lendas e entre as brincadeiras. Tais experiências seriam fundamentais para a construção do conhecimento e a socialização da criança, pois promoveriam o movimento de busca por interações, bem como a exploração de objetos, fazendo com que a criança, ao se comunicar com os outros, através de sua linguagem entre as brincadeiras, descobrisse regras tomando as suas próprias decisões.
É possível ler o mundo através da escola, através da experiência e da socialização, experimentando culturalmente e criativamente “os saberes e os sabores” do conhecimento do mundo da leitura. Isso pode ser compreendido aqui como Letramento..
Nesse sentido, o interesse maior do nosso projeto é criar um trabalho de pesquisa com a leitura lúdica na tentativa de compreender a criança como sujeito de voz, memória, criatividade e intuição, um ser que também pesquisa e que é capaz de interpretar e compreender os textos e o mundo a partir de elementos elaborados por ela própria, brincando e reinventando a existência através de múltiplas interações e linguagens. Para isso acreditamos ser necessário e possível valorizar a criança como sujeito criador de culturas e de aprendizagens, capaz de descobrir novos sentidos e significados na sua permanente relação com o mundo e com os outros, na sua constante re-descoberta do mundo.
Patricia Porto
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