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Mostrando postagens de 2017

Do Encontro entre o Amor e a Resistência: O indizível sentido do amor

          “Tudo isto realizo no imenso palácio da memória. Aí estão presentes o céu, a terra e o mar com todos os pormenores que neles pude perceber pelos sentidos, exceto os que já esqueci. É lá que me encontro a mim mesmo, e recordo as ações que fiz, o seu tempo, lugar, e até os sentimentos que me dominavam ao praticá-las” (Santo Agostinho) Há textos que nos provocam um sentimento tão grave de similitude que tomar distância dele vai exigir alguns dias de esforço. Foi a sensação que tive ao terminar de ler o romance de Rosângela Viera Rocha, “O indizível sentido do amor”.  Lembro de Leonardo Boff quando diz que “cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam”. Uma resenha é feita a partir dos olhos de quem lê, mas meus olhos de memorialista, meus olhos de poeta, os meus olhos de maranhense e ativista política, como poderiam ler o livro de Rosângela Vieira Rocha, distanciados da guerrilha, da resistência, da memór...

A Poesia de Carlos Orfeu: O desassossego e a invenção nos (in)visíveis

O desassossego e a invenção nos (in)visíveis /por Patrícia Porto/ Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura.  Roland Barthes nas paredes em despudor de silêncio a litania do invisível no cio do limo a sinfonia do mofo lavra o segredo da rachadura          É nas trincheiras da arte poética do cotidiano que encontraremos novos signos de resistência estética para a poesia. Prova disso é o livro de estreia de Carlos Orfeu, “(in)visíveis cotidianos”, que se desdobra páginas-corpo-poemas em múltiplos olhares que atentam para os “pequenos nadas”, expressão tão bem criada por Michel Maffesoli. Não foi à toa que a leitura das cenas cotidianas, dos frames que o poeta nos apresenta em versos densos e concisos, me levou a dialogar com lugares que refletem a relação entre o poder e o coti...

INTERROMPIDOS, MAS PERMANENTES

“Ouvi todas as coisas no céu e na terra. Ouvi muitas coisas no inferno.  Como então posso estar louco?” […] Edgar Allan Poe   Ainda na contemporaneidade, Edgard Allan Poe, Piglia, Borges, Cortazar... são alguns nomes que influenciaram o que podemos entender como crítica do conto. Guardando cada qual sua peculiaridade teórica, convergiam na ideia do poder da síntese associado à qualidade literária. No mais, a teoria do conto é um caldo repleto de considerações teóricas completamente opostas e até díspares. Uma das significativas definições de conto foi defendida por Cortazar e diz perto ao apelo à síntese dessa narrativa: Mas se não tivermos uma ideia viva do que é o conto, teremos perdido tempo, porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me for permitido o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma síntese viva ao mesmo que uma vida...

Começa em Mar - Uma leitura

É intensa e infinita a infância, rua de onde não se sai de todo.  Nublagem feito sombra que entranha, quase víscera.  Da infância ninguém se recupera  totalmente.  (Começa em Mar, p 132) Não costumo chamar de resenha o que se faz de forma tão intimista e confessional. Acredito que seria melhor chamar de leitura ou carta, uma carta que envio para a escritora de um certo além-mar, autora de um dedilhar poético que comunga exílios com memórias de sal, as que nos noticiam da nossa própria formação identitária. Na minha leitura que começa antes do livro, o Mar, ou melhor, a Mar começou por um encontro entre Porto e Mar-anha. Porque o Porto se encontra é no Mar. E o primeiro contato com Vanessa Maranha se deu através do Mar, das águas e da ilha. Eu tinha feito um comentário no grupo do "Mulherio das Letras" - sobre a nossa líquida forma de existência e insistência em ser mulher, de como nós nos fazíamos de líquidos, liquefeitas das águas que marcavam noss...

BOOK TRAILER Livro Cabeça de Antígona de Patricia Porto

BOOK TRAILER | poesia "Cabeça de Antígona" de Patricia Porto Maranhense, nascida em São Luís, radicada em Niterói, Patrícia Porto é formada em Literatura e mestre e doutora em Educação. Tanto como pesquisadora, quanto poeta, Patrícia Porto trabalha a memória como matéria prima de suas criações. Cabeça de Antígona (Ed. Reformatório, 2017) é o seu trabalho mais depurado no mergulho na memória. É o ponto alto de uma trilogia poética. Nele, a memória não é fundadora nem salvadora. A memória é carne. É corpo. É mulher. É aqui e agora. É onde a memória encontra seu lugar no mundo – e onde pode enfrentá-lo. Não há dúvida que o corpo feminino é um campo de disputas, de desejos, de interdições, de promessas e de libertação. Mas quando esse corpo é também o corpo da memória, todas essas características são transpassadas pelo tempo passado e pelo hoje. O corpo é a casa da memória. E Cabeça de Antígona é a casa em que essa memória se diz, se afirma, se impõe e encara o futuro, com...

“Cabeça de Antígona" faz uma bela mediação entre a cena e o poema

Resenha de Fernando Andrade Ambrosia http://ambrosia.com.br/literatura/cabeca-de-antigona-faz-uma-bela-mediacao-entre-cena-e-o-poema/ A vida é pequena para uma tragédia? A vida é longa em suas pa(i)ssagens? Como ver em cada cena, luz & sombra como um teatro reflete o vivente que nela se deita, palco? porque a vida em pé nunca saberemos quantas pedrinhas ou britas da poesia do Drummond (ande) haverá no caminho. Será que todos aparato das experiências que estão dentro do baú de guardados foram esquecidas? Pergunto, olhando as pessoas, se temos gosto pelo inóspito destas paisagens onde o horizonte reflete a alma do caminhante-viajante. Se a vida é narrativa mas não ficção, o quê? O poeta pode fazer com a palavra-meta. A tarefa ou liame é lidar com os olhos do subtexto, pois o poeta tem uma faca atrelada ao dentes que é a linguagem. Corta que é uma maravilha. Corta na carne e sangra… O livro de poemas Cabeça de Antígona da poeta Patricia Porto pela Editora Reformatório, poe...

Cabeça de Antígona

CABEÇA DE ANTÍGONA - RELEASE Maranhense, nascida em São Luís, radicada em Niterói, Patrícia Porto é formada em Literatura e mestre e doutora em Educação. Tanto como pesquisadora, quanto poeta, Patrícia Porto trabalha a memória como matéria prima de suas criações. CABEÇA DE ANTÍGONA (Ed. Reformatório, 2017) é o seu trabalho mais depurado no mergulho na memória. É o ponto alto de uma triologia poética. Importante dizer que não se trata de memória ressecada, emoldurada ou de ninar. É a memória que nos faz o que somos e que pode surgir a cada decisão que tomamos, a cada ato do nosso dia a dia. Para Patrícia Porto, a memória é o passado – é uma passagem. Sobre Pétalas e Preces (2014), seu primeiro livro de poesias, trazia memória como fundadora de ciclos e urdidora de ritos de passagem. Parafraseando o termo “romance de formação”, podemos dizer que os textos apresentados são “poesia de formação”, em que a poeta se apresenta em sua maturidade artística. Diário de Viagem (2015),...

Lançamento Cabeça de Antígona _ Patricia Porto

Lançamento do meu livro.  Uma felicidade que divido com vcs. "Do alto da torre deste reformatório, o repique dos sinos, para anunciar nosso próximo lançamento: "Cabeça de Antígona", de Patricia Porto que, segundo Délcio Teobaldo na apresentação do livro, "possui o manejo, tem as mãos adestradas ao ofício, mas chuta as panelas, rasga a nesga da saia a navalha, aumenta a chama a ponto de incendeio, erra a pitada do tempero. Por isso, quando me pediu que escrevesse uma orelha para este livro, reagi com ironia: “Ora, ora, Patrícia... Não te farei apenas a orelha. Te faço escuta”. Sonora escuta, porque os poemas de “Cabeça de Antígona” como, aliás, toda a poética de Patrícia Porto é de uma musicalidade que beira ao absurdo. Provoca desvario. Então, não se surpreendam que, cabocla e maliciosamente, sua Antígona se assemelhe a uma ribeirinha ancuda terçando um coco, um tambor de Mina, um samba de roda. Assim ela põe Antígona e Ogum no mesmo terreiro, e no rit...

"A cadela do fascismo continua no cio"

Norman Rockwell http://www.anf.org.br/a-cadela-do-fascismo-continua-no-cio/ Inicio este texto com a célebre frase de Bertoldt Brecht: "a cadela do fascismo está sempre no cio". Todos sabemos que os tempos de hoje são tempos favoráveis às criaturas sombrias. O grande cineasta, George A. Romero, “pai” dos filmes de zumbis, morreu há pouco tempo, mas nos deixou de herança esta simbologia dos mortos-vivos e vivos-mortos. O que retorna dos túmulo permanece  vivo, mas agora é vivo-morto. A cinematografia recente vem trazendo nas suas representações os efeitos drásticos de se viver numa terra arrasada por zumbis. Por isso mesmo faço a escolha desta duas imagens para falar do retorno do ódio neste período recursivo da história, do ódio que mora no coração dos homens e que retorna como super bactéria, se alastrando pelo ressentimento cíclico ou por uma nova forma vil e gratuita de contaminação via redes sociais. No Brasil, estamos vivendo tempos de terra arrasada, tempos ...

Os filhos esquecidos da educação

http://www.anf.org.br/os-filhos-esquecidos-da-educacao/ No Brasil, a lei sempre pode justificar os meios e os fins. Para fazer e para não fazer. Para desdizer ou maldizer. Ouço que a lei existe em todo o mundo, em todos os Estados – de direitos ou exceção. Por isso sempre me questiono sobre a verdade. Lei e verdade andam desde sempre juntas, para o bem ou para o mal. E será que vale a pena discutirmos o que é a verdade hoje? Será que estamos preparados para esta discussão ou será que estamos dançando no escuro, como se ainda estivéssemos na Caverna de Platão à espera de alguma luz? Na Grécia Antiga, era a mitologia que explicava os acontecimentos através de narrativas heroicas. Aquiles e Odisseu são heróis coletivos e fundadores. O que mais importava naquele tempo era a narrativa, porque por ela se conhecia os homens. Pela narrativa, chegávamos à fundação dos povos. Pela narrativa, um povo dizimava o outro e fundava um novo princípio. No poema épico, Aquiles se banha de ...

Deus mesmo, quando vier ao Brasil, que venha armado

armado/ http://www.anf.org.br/deus-mesmo-quando-vier-ao-brasil-que-venha-armado/                     Clarice Lispector tem um texto belíssimo que fala sobre as vantagens de ser bobo. O bobo que ao se tornar “o ignorado” – consegue levar a vida com aquela dose de sonho e crença no mundo. “Ignoscere” é um verbo em latim que significa “não conhecer”. A ignorância pode ser tomada aqui – nessa origem, como sinônimo do “se não conheço, desconheço e não reconheço”. Seria então o desconhecimento voluntário do que não reconheço. E se algo diz muito perto à esta ignorância é a nossa conhecida não–compreensão da alteridade, que existe um outro além de mim. Se não conhecemos não compreendemos, se não compreendemos não podemos ver. Daí a distopia que tanto nos atinge ultimamente. Em tempos de distopia cresce a dureza sem ternura que leva à incompreensão, à “indiferença” e leva à banalidade do mal.             ...

Sebos: a resistência com todas as letras

/ http://www.anf.org.br/sebos-a-resistencia-com-todas-as-letras/ A livraria no Brasil, de uma forma geral, é hoje uma boutique de livros. Lembrando a ironia tão peculiar de Nelson Rodrigues, que tão bem dizia que “toda unanimidade é burra”, esta é uma constatação, de fato, quase unânime. Claro, sem ofender às boas livrarias que resistem bravamente à avalanche das novidades, cada vez que entro em certas duas ou três livrarias de shopping e olho aquelas mesas-vitrines com aquela quantidade enorme de livros que já foram vendidos aos milhões mundo afora, sou convidada a sentir certa náusea. Não vejo diferença entre esse tipo de estabelecimento e a sapataria do andar de baixo. O sujeito olha, sente aquele já conhecido comichão do consumo e acaba levando para casa o mais recente título, sem que isso faça muito sentido pra ele. “É o último lançamento, você não pode perder essa oportunidade de colocar na sua estante”. E o sujeito, mais consumidor que leitor, mais colecionador qu...

Era uma vez o livro proibido pelo MEC...

Era uma vez o livro proibido pelo MEC Quando li a notícia de que o Ministério da Educação (MEC), através de ofício, ordenou o recolhimento de noventa e três mil exemplares do livro infantil “Enquanto o sono não vem”, de José Mauro Brant, quem perdeu o sono fui eu. Lembrando que o livro faz parte do Programa de Alfabetização na Idade Certa (Pnaic), programa voltado para alunos das séries iniciais das escolas públicas. Pergunto então: como é possível que uma obra baseada nas histórias orais da cultura brasileira possa ofender tanto? Será que os técnicos do ministério não entenderam que há neste ato uma atitude altamente repressiva? E o que há por trás desta determinação tão autoritária? A confusão começou quando educadores muito preocupados entenderam que o conto “A triste história de Eredegalda” fazia referência a incesto, um tema por demais complexo para ser comentado com crianças pequenas. Claro. Mas, espera aí… Só para citar dois, pois receio que terão que proibir também C...

DIVULGAÇÃO: Mulherio das Letras em São Paulo (Primeiro Encontro Regional)

Homem é muito bem-vindo  (mas só como público)             Mulherio das Letras 2017 promove união entre escritoras de todo o país.           Em São Paulo, o primeiro encontro aberto ao público já tem dia e hora para acontecer. Local:  Livraria Blooks Dia  29 de junho d e 2017 Shopping Frei Caneca, São Paulo Rua Frei Caneca, 569 Das 19h às 22h          Algo novo está surgindo no país. Um movimento de mulheres ligadas à literatura, o “Mulherio das Letras” que, a partir de conversas informais entre escritoras, e a coordenação inicial da premiada autora Maria Valéria Rezende, com um grupo reunido em João Pessoa, começa a sacudir o marasmo do ambiente literário em 2017. Lançado há apenas dois meses, o movimento já conta com mais de 3.900 inscritas (entre escritoras, editoras, ilustradoras, críticas literárias, professoras e jornalistas) e realizará seu primeiro e...

Revista Cult: Conheça o Mulherio das Letras, articulação de autoras por igualdade no mercado editorial

Maria Valéria Rezende _Foto-Adriano-Franco Helô D'Angelo (9 de junho de 2017) "Entre 12 e 15 de outubro, o Mulherio das Letras vai reunir pelo menos 400 mulheres ligadas à escrita no Centro Cultural José Lins do Rego, em João Pessoa (PB) – cidade escolhida para fugir do eixo Rio-São Paulo, o que mais lança autoras no Brasil. Além de um evento, o ‘Mulherio’ é também um movimento: trata-se do primeiro grupo literário em nível nacional voltado para a reunião, revelação e para o auxílio de mulheres ligadas às letras – sejam elas escritoras, editoras, acadêmicas ou mesmo designers. “Criamos ali, meio sem querer, um grande agregado de mulheres no mercado editorial”, diz Maria Valéria Rezende, escritora, vencedora do prêmio Jabuti e uma das organizadoras do grupo. “A ideia é que seja uma forma de congregação de autoras, completamente livre e sem hierarquia.” Será o primeiro encontro nacional voltado quase que exclusivamente para autoras do sexo feminino. Na progr...

Dia do trabalho: dois textos e dois rios de entranças

                                      Memória de territórios              (Professora Patricia Porto)                    Comecei a trabalhar aos quatorze anos de idade. Fiz de tudo um pouco, armarinho, aula particular, loja de bugigangas, escritório, fábrica, banco e por fim, escola e universidade. Acho que me fiz ser humano pela cultura do trabalho. Não sei ser outra pessoa sem passar por esse viés. Conheci muita gente neste percurso, muitas companheiras, muitos companheiros de jornada, e aprendi desde cedo – com eles – dividir o fardo, me solidarizar e me incomodar profundamente com a injustiça social. Não foi um caminho fácil até chegar à universidade. Estudante de escola pública uma vida inteira, ao chegar na universidade tive que enfrentar o desafio de ser uma estudante trabalhadora, da cla...