Dislexia: Eu posso!
Conversando com o Dan (do facebook para o blog):
Quando criança eu fui considerada retardada, preguiçosa, lerda ou lenta (dependia muito do humor do professor), ou ainda burra, incapaz, irresponsável com as tarefas, atrasada, desatenta, a que vivia no mundo da lua, tímida, doente, fraca etc. Sofri muito mais bullying dos meus professores que dos meus "amiguinhos". E, para o meu espanto, quando você se torna adulto e consegue chegar a algum lugar, qualquer lugar, então você ouve: "ah, vai, mentira... Você não pode ter dislexia." rs Será que esse tipo de pensamento
não faz parte do mesmo preconceito lá do início da minha vida escolar? E um detalhe: eu ainda vivo no mundo da lua. rs
Por isso algumas questões importantes devem ser lembradas para quem tem filhos disléxicos ou para os que trabalham com crianças disléxicas, isso diz respeito aos professores. Então vamos a um primeiro esclarecimento: a dislexia não é uma doença. É um "transtorno" de aprendizagem relacionado a linguagem. Dito isso... Há dois tipos de dislexia: a adquirida e a de desenvolvimento. Na primeira, a pessoa lê e escreve bem, mas devido a algum trauma, pode ser um derrame, ela passa apresentar dificuldades na leitura e escrita. O segundo tipo: a dislexia de desenvolvimento, é o mais comum, e é a que atinge cerca de 10% da nossa população. Neste caso, a pessoa nasce com dislexia, é um transtorno de ordem genética que está ligado a um determinado cromossomo. E pode não ser hereditário. Quer dizer, o pai e a mãe podem não ser disléxicos e terem um filho disléxico; os pais podem ser disléxicos e os filhos podem não apresentar o transtorno.
A dislexia não tem relação com o chamado "nível" de cognição, a criança não é burra nem lerda. Ela tem uma forma diferente de aprender. Ela tem um "ritmo" diferente (como disse o Dan) de apreender. Eu fiz muitos testes, avaliações e meu QI nunca ficou abaixo de 130. rsrs Mas eu continuo convivendo com muitas dificuldades e preciso vencê-las, ultrapassá-las diariamente. E uma das maiores dificuldade que eu trago do meu ensino fundamental se chama "trauma", porque além das dificuldades que você precisa "como criança" enfrentar dentro de uma sala de aula: o desconhecido, a socialização, a própria aprendizagem; o disléxico sofre muitas vezes "o descrédito", "a intolerância", "a ironia", "o pouco caso" daqueles que representam as Instituições Escolares. Lembrando que eu fiz o meu ensino fundamental na década de 70. Dislexia era um palavrão. E antes do nome existir, vinham os rótulos, e os piores possíveis, os piores que se podiam colocar, classificar crianças com esta ou outras distintas disfunções de aprendizagem. Não digo que isso tenha mudado completamente. Mas hoje há um novo cenário e uma certa "curvatura da vara": "trocou letra é disléxico" e toma encaminhamento para o psicólogo! Há uma precipitação diagnóstica, e na maioria das vezes, incorreta. Há uma excessiva pré-ocupação com isso. Um exagero!
Outro ponto muito relevante: a dislexia não pode ser tratada por um profissional apenas de uma única área. A criança com dislexia precisa de um suporte multidisciplinar que envolve professores, família, pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, médicos (neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista) , arte-terapeutas e outros mais. Até porque há muitos sintomas combinados e eles podem facilmente ser confundidos, principalmente se os professores, entre eles os alfabetizadores, importantíssimos na descoberta do transtorno, não conhecerem o suficiente a respeito. Geralmente a dislexia se revela nessa etapa de aprendizagem. É o esperado. Eu repeti a alfabetização. E muitos disléxicos repetem os primeiros anos do ensino fundamental. É comum. Até porque para se chegar a um diagnóstico próximo do "preciso" há um longo caminho a ser percorrido.
É difícil colocar uma lista aqui de sintomas, porque cada criança é uma criança, cada transtorno é um transtorno diferente do outro. Então para se chegar a um diagnóstico é preciso que essa criança seja avaliada por toda uma equipe engajada nesta questão. Principalmente para que os sofrimentos enfrentados na infância não se tornem pesadelos do presente na vida adulta.
Na alfabetização, a professora, o professor pode sim notar algumas situações significativas como: a criança não identifica esquerda e direita, pode escrever espelhado, trocar grafemas que tem ou não conexão fonética. Ficam estressadas com as atividades. E não adianta colocar "de castigo" escrevendo mil vezes a mesma palavra (eu passei por isso. Ahhhhh!!!!) Porque no dia seguinte a criança disléxica vai voltar a escrever aquela palavra cometendo o mesmo erro. (Aí mora o perigo: ela facilmente vira "burra") É preciso que se entenda que a criança com dislexia não aprende assim, nessa lógica. Nunca! As crianças disléxicas quando estão aprendendo a ler, por exemplo, podem no ato da leitura pular linhas, parágrafos inteiros, não saber a correspondência do que estão lendo com o que vão ler em seguida... Eu tenho isso até hoje, agora mesmo vivencio isso ao escrever e me reler aqui. Por isso exercícios como: "leia e procure no texto", "identifique no texto" podem se tornar montanhas a escalar. Daí a demora. E aí entra "o ritmo", a possibilidade da contação de histórias como parte do processo alfabetizador, o teatro, a poesia (que liberta e é permissiva, que trapaceia a língua com seus jogos), a música, o universo lúdico da arte, a dança com as linguagens, imagens, sons do corpo...
Crianças disléxicas são excelentes como observadores, pesquisadores, aprendem facilmente "de ouvido" e não esquecem mais, porque eles têm ótima memória pros sons, pras imagens... Palavra é imagem. É som.
A primeira decisão difícil que a professora, o professor deve tomar, na minha opinião, é conversar com a família da criança. Até porque a criança provavelmente apresentará questões de dificuldades em casa bem parecidas com as da sala de aula e que podem, é claro, ter sido observadas pelos que convivem com ela. É importante sempre conversar primeiro, sondar. E é importante que a professora, o professor trabalhe previamente "o tom" dessa conversa. Essa intervenção e a abordagem são importantíssimas. Outro ponto fulcral (adoro essa palavra) é que a criança precisa se sentir segura no ambiente de aprendizagem, segura para aprender, para se socializar. Por conta das condições da síndrome, muitos disléxicos são tímidos, sentem muita vergonha, não gostam de ler ou falar em público ou mesmo apresentam dificuldade para encarar as pessoas. São etapas de pesquisa e trabalho para os profissionais das áreas específicas e multidisciplinares.
Bem, na semana da dislexia, esta é a minha pequena contribuição. Nunca levantei bandeira, porque a bandeira está dentro de mim. E por último e importante: dislexia "não tem cura". É viver com.
Patricia Porto (Escritora, poeta, professora, pesquisadora e disléxica)
Sites importantes:
http://www.dislexia.org.br/
http://www.andislexia.org.br/
Por isso algumas questões importantes devem ser lembradas para quem tem filhos disléxicos ou para os que trabalham com crianças disléxicas, isso diz respeito aos professores. Então vamos a um primeiro esclarecimento: a dislexia não é uma doença. É um "transtorno" de aprendizagem relacionado a linguagem. Dito isso... Há dois tipos de dislexia: a adquirida e a de desenvolvimento. Na primeira, a pessoa lê e escreve bem, mas devido a algum trauma, pode ser um derrame, ela passa apresentar dificuldades na leitura e escrita. O segundo tipo: a dislexia de desenvolvimento, é o mais comum, e é a que atinge cerca de 10% da nossa população. Neste caso, a pessoa nasce com dislexia, é um transtorno de ordem genética que está ligado a um determinado cromossomo. E pode não ser hereditário. Quer dizer, o pai e a mãe podem não ser disléxicos e terem um filho disléxico; os pais podem ser disléxicos e os filhos podem não apresentar o transtorno.
A dislexia não tem relação com o chamado "nível" de cognição, a criança não é burra nem lerda. Ela tem uma forma diferente de aprender. Ela tem um "ritmo" diferente (como disse o Dan) de apreender. Eu fiz muitos testes, avaliações e meu QI nunca ficou abaixo de 130. rsrs Mas eu continuo convivendo com muitas dificuldades e preciso vencê-las, ultrapassá-las diariamente. E uma das maiores dificuldade que eu trago do meu ensino fundamental se chama "trauma", porque além das dificuldades que você precisa "como criança" enfrentar dentro de uma sala de aula: o desconhecido, a socialização, a própria aprendizagem; o disléxico sofre muitas vezes "o descrédito", "a intolerância", "a ironia", "o pouco caso" daqueles que representam as Instituições Escolares. Lembrando que eu fiz o meu ensino fundamental na década de 70. Dislexia era um palavrão. E antes do nome existir, vinham os rótulos, e os piores possíveis, os piores que se podiam colocar, classificar crianças com esta ou outras distintas disfunções de aprendizagem. Não digo que isso tenha mudado completamente. Mas hoje há um novo cenário e uma certa "curvatura da vara": "trocou letra é disléxico" e toma encaminhamento para o psicólogo! Há uma precipitação diagnóstica, e na maioria das vezes, incorreta. Há uma excessiva pré-ocupação com isso. Um exagero!
Outro ponto muito relevante: a dislexia não pode ser tratada por um profissional apenas de uma única área. A criança com dislexia precisa de um suporte multidisciplinar que envolve professores, família, pedagogos, psicólogos, fonoaudiólogos, psicopedagogos, médicos (neurologista, oftalmologista, otorrinolaringologista) , arte-terapeutas e outros mais. Até porque há muitos sintomas combinados e eles podem facilmente ser confundidos, principalmente se os professores, entre eles os alfabetizadores, importantíssimos na descoberta do transtorno, não conhecerem o suficiente a respeito. Geralmente a dislexia se revela nessa etapa de aprendizagem. É o esperado. Eu repeti a alfabetização. E muitos disléxicos repetem os primeiros anos do ensino fundamental. É comum. Até porque para se chegar a um diagnóstico próximo do "preciso" há um longo caminho a ser percorrido.
É difícil colocar uma lista aqui de sintomas, porque cada criança é uma criança, cada transtorno é um transtorno diferente do outro. Então para se chegar a um diagnóstico é preciso que essa criança seja avaliada por toda uma equipe engajada nesta questão. Principalmente para que os sofrimentos enfrentados na infância não se tornem pesadelos do presente na vida adulta.
Na alfabetização, a professora, o professor pode sim notar algumas situações significativas como: a criança não identifica esquerda e direita, pode escrever espelhado, trocar grafemas que tem ou não conexão fonética. Ficam estressadas com as atividades. E não adianta colocar "de castigo" escrevendo mil vezes a mesma palavra (eu passei por isso. Ahhhhh!!!!) Porque no dia seguinte a criança disléxica vai voltar a escrever aquela palavra cometendo o mesmo erro. (Aí mora o perigo: ela facilmente vira "burra") É preciso que se entenda que a criança com dislexia não aprende assim, nessa lógica. Nunca! As crianças disléxicas quando estão aprendendo a ler, por exemplo, podem no ato da leitura pular linhas, parágrafos inteiros, não saber a correspondência do que estão lendo com o que vão ler em seguida... Eu tenho isso até hoje, agora mesmo vivencio isso ao escrever e me reler aqui. Por isso exercícios como: "leia e procure no texto", "identifique no texto" podem se tornar montanhas a escalar. Daí a demora. E aí entra "o ritmo", a possibilidade da contação de histórias como parte do processo alfabetizador, o teatro, a poesia (que liberta e é permissiva, que trapaceia a língua com seus jogos), a música, o universo lúdico da arte, a dança com as linguagens, imagens, sons do corpo...
Crianças disléxicas são excelentes como observadores, pesquisadores, aprendem facilmente "de ouvido" e não esquecem mais, porque eles têm ótima memória pros sons, pras imagens... Palavra é imagem. É som.
A primeira decisão difícil que a professora, o professor deve tomar, na minha opinião, é conversar com a família da criança. Até porque a criança provavelmente apresentará questões de dificuldades em casa bem parecidas com as da sala de aula e que podem, é claro, ter sido observadas pelos que convivem com ela. É importante sempre conversar primeiro, sondar. E é importante que a professora, o professor trabalhe previamente "o tom" dessa conversa. Essa intervenção e a abordagem são importantíssimas. Outro ponto fulcral (adoro essa palavra) é que a criança precisa se sentir segura no ambiente de aprendizagem, segura para aprender, para se socializar. Por conta das condições da síndrome, muitos disléxicos são tímidos, sentem muita vergonha, não gostam de ler ou falar em público ou mesmo apresentam dificuldade para encarar as pessoas. São etapas de pesquisa e trabalho para os profissionais das áreas específicas e multidisciplinares.
Bem, na semana da dislexia, esta é a minha pequena contribuição. Nunca levantei bandeira, porque a bandeira está dentro de mim. E por último e importante: dislexia "não tem cura". É viver com.
Patricia Porto (Escritora, poeta, professora, pesquisadora e disléxica)
Sites importantes:
http://www.dislexia.org.br/
http://www.andislexia.org.br/
"DICA PROFISSIONAL - Orientações para sala de aula"
"Os disléxicos possuem características próprias e individuais assim como todos nós, ou seja, não existe uma "fórmula" igual para todos que os ajude na aprendizagem em sala de aula.
O mais importante é que as pessoas que lidam com eles possuam muita sensibilidade para perceber e sentir por qual caminho este aluno consegue aprender melhor. Algumas "dicas" são válidas, mas isso não quer dizer que todos se dêem bem com elas.
Por exemplo:
> colocá-los sentados perto da professora e da lousa; acompanhar suas anotações ou pedir para que um colega o ajude a anotar datas de entrega de trabalhos, etc.;
> oferecer lápis de cores diferentes para escrever ou copiar da lousa como estímulo à escrita (escrever uma linha de cada cor, ou uma palavra de cada cor);
> valorizar muito o lado sensível que eles possuem, normalmente ligado aos animais, à natureza, ao ser humano ou trabalhos manuais como dobraduras; este lado sensível pode ser estimulado através do(a) professor(a) e dos próprios alunos, pedindo para que o disléxico apresente para a classe o que sabe sobre o assunto (com o objetivo de levantar sua auto - estima);
> oferecer-lhe uma régua para acompanhar a leitura;
> respeitar o seu ritmo e oferecer tempo extra para que termine as atividades ou fazer um pequeno resumo da matéria e/ou dos exercícios, o disléxico não precisa ter todos os exercícios, priorize os mais importantes; oferecer-lhe apoio e compreensão nos momentos difíceis, com o cuidado de não fazer com que ele se torne vítima de uma situação e passe a se aproveitar dela, por exemplo: ele resolve não fazer mais nada só porque é disléxico, mostrar que ele é muito inteligente e pode fazer muita coisa!"
*Silvana Perez - Psicopedagoga Clínica
Psicopedagoga Voluntária da ABD
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