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PÃO E ROSAS


Imagem: Meninos, Sebastião Salgado.


Freinet (1896 – 1960)


                   As crianças precisam de pão e rosas.
                   O pão do corpo, que mantém o indivíduo em boa saúde fisiológica .
                  O pão do espírito, a que chamas instrução, conhecimentos, conquistas técnicas, esse mínimo sem o qual se corre o risco de não conseguimos a desejável saúde intelectual.
                   E as rosas também. Não pro luxo, mas por necessidade vital.
                   Observo meu cão. Claro, precisa comer e beber para não ter fome e desespero, não ficar com a língua de fora . Mas tem mais necessidade ainda duma carícia do dono, duma palavra de simpatia ou, por vezes, duma simples palavra; daquele afeto que lhe dá o sentimento do lugar que ocupa no muno em que vive e que quereria muito grande; de correr por entre as moitas ou somente de ladrar demoradamente, nas noites de luar, talvez para ouvir ressoar a própria voz. Como se esta abalasse magnificamente o universo.
                    As crianças têm necessidade de pão, do pão do corpo e do pão do espírito, mas têm mais necessidade ainda do teu olhar, da tua voz, do teu pensamento e da tua promessa . Precisam sentir que encontraram, em ti e na tua escola, aquela ressonância que lhes dá sentido e uma finalidade à vida . Têm necessidade de falar a alguém que as escute, de escrever a alguém que as leia ou que as compreenda, de produzir alguma coisa de útil e de belo que é a expressão de tudo o que nelas trazem de generoso e de superior.
                 Essa nova intimidade que se estabelece pelo trabalho entre o adulto e a criança; esse novo grafismo aparentemente sem objeto, valorizado pela matéria ou pela cor; esse texto eternizado pela imprensa;esse poema que é o cântico da alma; esse cântico que é como um apelo do ser para aquele afeto que nos ultrapassa; e de tudo isso que vive a criança, normalmente alimentada de pão e de conhecimentos, é tudo isso que a engrandece e a idealiza, que lhe abre o coração e o espírito .
                 A planta tem necessidade de sol e de céu azul; o animal não degenerado pela domesticação não sebe viver sem o ar puro da liberdade . A criança de pão e rosas.
Freinet (1896 – 1960)


“Espero que esse pequeno livro possa ser útil a todos aqueles que acreditam no lugar de destaque que a imaginação deve ter no processo educacional, àqueles que acreditam na criatividade e que sabem o valor da liberação que a palavra pode ter. “Todos os usos da palavra para todos” parece um bom lema, sonoramente democrático. Não exatamente porque todos sejam artistas, mas porque ninguém é escravo.”  (p.13)

“O jogo é tão natural na criança, provoca tamanha entrega de si, um entusiasmo e uma animação tão dinâmicas, que é capaz de animar superlativamente uma pedagogia que compreenda seu processo e seu verdadeiro sentido” ( A Educação do trabalho , p.173)

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