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Quando o hábito da leitura vem desde os tempos de criança.

01/07/2010


Vinicius Zepeda

Histórias em quadrinhos são importante instrumento
para desenvolver o hábito da leitura entre as crianças


Nos últimos anos, o mercado editorial de livros voltados para o público infantil e juvenil brasileiro está experimentando um verdadeiro boom no lançamento de obras e de vendagens de títulos devido ao apoio pelo governo federal para a criação de espaços de leitura em escolas. A afirmação é da professora e coordenadora do curso de especialização em literatura infanto-juvenil da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e organizadora do VI Encontro de Literatura Infanto-Juvenil: Percursos da Leitura, Rosa Maria de Carvalho Gens. O evento, apoiado pela FAPERJ, será realizado nos dias 13, 14 e 15 de julho na universidade. “E o impulso ao setor vai continuar, pois o governo sancionou em maio deste ano uma lei que obriga que até 2020 todas as escolas do País a contarem com uma biblioteca em seu espaço”, complementa Rosa.

O VI Encontro será composto de conferências, mesas-redondas, oficinas, leitura de textos literários pelos próprios autores, além de doze minicursos com cinco horas de duração cada: linguagens desenhadas e narrativas; mitologia greco-romana e literatura infantil; leitura literária e estudos de gênero; a arte de contar histórias; xilogravura como material didático; trabalhando com teatro na escola; literaturas africanas na escola; ilustração: importância e diferentes estilos; projetos de leitura na sala de aula; o imaginário e sua ilustração; a literatura de cordel na sala de aula: ler, encenar e brincar; experiências leitoras intersemióticas no ensino fundamental e médio. E se encerrará com o II Encontro Popular de Contadores de História, atividade com a possível participação de crianças e jovens. “Serão seis horas de contação contínua de histórias com renomados contadores”, explica Rosa.

Voltado para professores de ensino fundamental e médio; alunos de graduação e pós-graduação de Letras, Educação, Música, História, Belas Artes e áreas afins; além de pessoas interessadas em literatura infantil e juvenil, o VI Encontro debaterá principalmente a qualidade da literatura infanto-juvenil e as diferentes formas de divulgá-la. Sobre este ponto, Rosa destaca dois fenômenos fundamentais para o crescimento da literatura infanto-juvenil, que tem a maior parte de seus leitores entre pré-adolescentes e adolescentes leitores de sagas de fantasia como Crepúsculo, Harry Potter, Senhor dos Anéis, entre outros. “Vale chamar atenção para o ponto comum neste segmento de livros, que tem sido um sucesso estrondoso: todos trazem histórias de fantasia baseadas em mitologia antiga com uma roupagem atualizada para os dias de hoje”, afirma Rosa.

Quando nos remetemos especificamente ao universo infantil, Rosa lembra que a indicação de livros pelos professores na escola é fundamental para criar o hábito da leitura desde cedo. “Com exceção de histórias em quadrinhos ou de um ou outro livro dado por parentes, as crianças normalmente só leem os livros passados pelos professores no colégio”, afirma. Nesse caso, a coordenadora lamenta o pouco envolvimento da grande imprensa no incentivo à leitura. “De todos os jornais existentes no País, conheço apenas três – O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de São Paulo – que têm suplementos direcionados ao público infanto-juvenil, com o Globinho, Estadinho e Folhinha, respectivamente”, explica. “Porém, os suplementos dos jornais paulistas são os únicos a incentivar neste público o hábito de ler livros, pois o Globinho se volta unicamente a criar o gosto de ler o próprio jornal e não pela literatura,” complementa. Ela ainda destaca que no caso específico da TV, faltam programas ou mesmo vinhetas apresentando bons livros e direcionada ao público infantil. Mesmo as adaptações de obras literárias são feitas praticamente sem menção ou debate sobre o livro original.

Outro formato literário destacado por Rosa é o das HQs e livros que falam a linguagem do jovem e abordam o cotidiano de anseios e dificuldades tão comuns aos adolescentes. Entre eles, estão autores como Ana Cecília Leal, colunista da Folhinha que escreve o blog Diário da Odalisca, e a escritora Índigo, que falará na mesa-redonda “Blog e literatura”, no primeiro dia do evento. “No último dia do encontro, acontecerá a mesa-redonda coordenada pela professora Flora de Paoli, da UFRJ, que falará sobre o escritor italiano Gianni Rodari, que tem tido um grande sucesso no segmento infantil”, completa.

Rosa fala ainda sobre um novo segmento que tem crescido muito atualmente: a adaptação de obras clássicas literárias para a linguagem de quadrinhos, graphic novels e mangás japoneses. “Neste sentido, cabe destacar o lançamento, ano passado, das HQs jovens, que teve início com a Turma da Mônica Jovem (o primeiro HQ em formato mangá brasileiro e sucesso editorial da editora Globo), Luluzinha Teen e Moranguinho Jovem”, destaca Rosa. “Este é um fenômeno que eu não conhecia e é bem interessante. Assim como as crianças cresceram e viraram adolescentes, os personagens também acompanharam”, complementa. Outro ponto alto do evento, também no último dia, será a conferência de Sônia Zanqueta, da comissão executiva da Câmara Riograndense do livro, que falará sobre projetos de leitura ligados à Feira do Livro de Porto Alegre.

É. Pode ser propaganda, mas é a mais pura verdade: “Quem lê, viaja.” Democraticamente, independente de ser pobre ou rico, e sem limites para sonhar, que não custa nada (ou quase nada). (...)

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