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O luto e a luta contra novos preconceitos.

                          Depois da tragédia abominável ocorrida na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, vários canais de televisão começaram a traçar – com ajuda de vários especialistas – um provável perfil de Wellington, que matou cruelmente e friamente doze crianças e feriu mais doze. Nas mesas de debate, algumas teclas tem sido insistentemente batidas e dizem respeito às caracteristicas desse perfil, como “esquisito”, “estranho”, “muito tímido”, “reservado”, ter sofrido bullying na escola, ser adotado, ler sobre o Islã, ser filho de "uma doente mental" etc. “Em quatro anos não ouvi mais de três palavras, frases, ditas por ele”, “vinha do trabalho pra casa e ficava no computador”, “era isolado”... Pergunto então: quantas pessoas com duas, três, quatro características deste perfil você conhece ou conheceu? Eu estou incluída no mínimo em quatro dessas características. Trabalho com crianças há mais de quinze anos. Deveriam começar a me vigiar, pois talvez eu seja uma louca

Um trato amoroso contra a pedagogia da “palmatória verbal”.

Há bons anos passados, quando fazia uma pesquisa para a minha dissertação de mestrado, colhendo relatos de professores – ainda que de forma confusa, me deparei com esta expressão bastante peculiar: “(...)então eu uso a palmatória verbal”. Nenhuma pretensão aqui de colocar em análise a fala apartada de seu contexto original, pois seria algo, no mínimo, leviano. Porém a expressão, a força que trafega nela, é como a própria violência em forma de signo e, certamente, merece não apenas esta reflexão, mas outras mais consistentes. Mas se me aventuro por ora na compreensão do termo, creio que seja preciso certo despudor com as palavras, principalmente no que diz respeito a uma situação ontológica, aquela que revela em imagem, a criação e a manipulação do signo. Para tentar compreender uma metáfora é preciso adentrar nos interditos da linguagem, talvez criando com ela uma nova consciência. Assim uma imagem, ainda turva, e que surge de uma expressão como “palmatória verbal”, pode vir a desenc

Eventos do Dia Mundial de Conscientização do Autismo 2011

Eventos do Dia Mundial de Conscientização do Autismo 2011 Para download: http://www.revistaautismo.com.br/revistaautismo0.pdf

Lerletras e passarinhos.

letra, desenho e gente – nessas e tantas desordens pássaros nos peitoris, pitombas azedinhas mulheres quebrando cocos de babaçu água de cachoeira e mar verbos e sussuros... o tempo que veloz passa e o tempo que e-terno chega crianças barulhentas nos pátios das escolas crianças trancadas em condomínios de pouca alegria correntes que se arrastam nos corredores das cadeias humanas as chagas da alma no corpo... as estações: se vai chover ou fazer frio... luz, sombra, fogos de artifícios, nuvens, posições do sol, da Terra, de Marte mapas, cartas, telegramas urgentes, bilhetinhos de amor roupas no varal, sonhos, cicatrizes, mãos que se abraçam o vento e a esperança Ler nos olhos das palavras. Ler de tudo e até do silêncio. O que for da experiência. O que não for do veto... O veto? Ler também. Lerletra, desenho e gente – nessas e tantas desordens. Patricia Porto

Ler devia ser proibido.

LER DEVIA SER PROIBIDO Guiomar de Grammont A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido. Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madamme Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos. Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder

Discutindo a Leitura por José Mindlin.

* Trecho extraído de Entrevista da Revista Discutindo Literatura com o bibliófilo José Mindlin,   edição nº 18. [...] DL - Existe idade para começar a ler? JM - O amor ao livro pode ser criado antes de a criança saber ler. No Brasil, a grande massa da população não tem livros em casa. Aí passa o papel para a escola. E na escola o importante é mostrar à criança que a leitura não é uma obrigação. É uma fonte de prazer. Eu tenho procurado fazer o que chamo de inocular o vírus do amor à leitura no maior número de pessoas. Principalmente crianças e jovens. É um vírus incurável. E faz bem. Pegando no começo da vida, pode ter certeza de que vai gostar até o fim. DL - O senhor tem alguma mania na hora de ler? JM - Gosto de ler em voz alta. Ajuda a criar o hábito. Guimarães Rosa eu li em voz alta. Tem uma musicalidade excepcional. DL - Qual o pedido ou conselho que daria aos educadores? JM - Mostrar que ler é um prazer. Uma vez sugeri introduzir no currículo escolar uma hora de leitura

Poética da Linguagem: Um trançado de bilro entre entre oralidade, literatura e folclore.

Patrícia de Cássia Pereira Porto RESUMO O discurso oral é um tecido social coletivo. Somos herdeiros das tradições orais que formaram vários povos, herdamos das tradições simbólicas as histórias que tecem toda cultura oral nascida no seio da coletividade. As vozes que ecoam das classes populares, dos griôs, dos oprimidos, dos iletrados – é a voz da memória mítica que ao ressurgir como força motriz de uma memória coletiva nos faz mergulhar na nossa História brasileira feita de muitas histórias singulares silenciadas, sufocadas, interrompidas. Por isso a proposta deste texto nasce da busca por uma práxis transformadora que propicie a inclusão efetiva da prática da “oralidade” e da arte folclórica, bem como a conseqüente pluralidade de saberes que daí advém como processo de re-significação do passado no presente. Isto objetivando mostrar a criança como sujeito da sua própria cultura e história, autora das suas palavras. Propomos assim um discurso oral dialogado que enfatize a poétic