Para atravessar pontes, Pedro,
é preciso pousar o coração com cuidado,
pois do outro lado há sempre vida a ser preservada
e aquela rua, a outra e mais a outra
guardam tantas histórias e amores inacabados
e as cidades todas elas têm alma!
E para atravessar pontes, meu filho,
pontes de concreto e chão,
é preciso erguer-se com os braços
trazendo-os para o centro
e como numa canção de aconchego
abraçar a si mesmo se estiver sozinho e confuso.
As certezas vão ficando menores
e sendo menores vão ficando melhores.
Quase incertezas...
Não há mais bicho papão
e se pode dormir seguro no escuro do medo.
Sabe, Pedro, poderemos atravessar pontes
sem temer cair no abismo
– do passado ou do futuro,
pois para atravessar pontes
é preciso conhecer o sensível de si,
o simples, o pequeno do homem, e se compreender como as crianças:
antes de saber tudo sempre perguntar "por quê?" Por quê?
Por isso digo a você que para atravessar pontes
volto para casa como voltava o meu avô,
- com o pão de cada dia,
uma santinha na carteira,
o seu retrato de menino,
uma qualquer verdade no olhar
e um punhado de crença
para fartar nossa mesa de sonho
e amor.
_ Vem cá, meu filho.
Oxalá, nunca nos falte esse amor!
Pois para atravessar pontes
atravessar mundos, Pedro!
Patrícia Porto
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