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Mostrando postagens de junho, 2012

Por ser criança

Algarve, 1957. Por ser criança Bartolomeu Campos de Queirós                            Por ser ainda criança, também seu olhar é jovem. E por ser criança, ela tem a fantasia como instrumento para explicar o mundo. E com desmedo da liberdade, guiada pela espontaneidade, ela invade tudo que seu olhar alcança sem duvidar de seu entendimento. A fantasia é sua verdade. Mas não é fácil ser criança. O mundo é muito vasto e a vida, muito pequena. Há ilimitadas coisas para suspeitar e muitas para adivinhar. As cores trocam de nuances, as nuvens se movem sempre, os sons trocam de tons, o dia se faz noite, as estrelas dormem com a luz do sol, as chuvas caem do nada, a curiosidade pela língua dos animais, o trajeto incontrolável do tempo e o vazio vão até o muito longe. E o mais difícil em ser criança é desentender o porquê da dor, desconhecer onde a boca busca o sorriso, porque a lágrima é de sal, não saber o percurso do mundo, onde vivia o sonho antes de ser sonhado, e quem deu

Aprender para aprender.

"the poffer" Trechos alternados de alguns dos meus textos acadêmicos: Aprender para aprender.  Pedro Demo ressalta que partindo da economia intensiva do conhecimento e observando seus efeitos mais preocupantes, como queda do emprego, recrudescimento do desemprego estrutural, globalização competitiva marginalizante, o papel  do conhecimento apresenta , com muita força a dubiedade de sua face: devemos a ele progressos fundamentais para o ser humano (...), mas vivemos em um mundo que ainda investe na ignorância das maiorias, como tática de manutenção do status quo. Isso nos alerta para a possível debilitação da capacidade de criação que se evidencia, sobretudo nas propostas curriculares, onde se alicerçam as noções de avaliação de desempenho, fracasso escolar, favorecendo a disseminação de verdades deterministas, incluídas aí as que perpetuam o aparato ideológico do Estado, muitas vezes propagando práticas segregacionistas e excludentes. N

"Para não parar de Ler": Claraboia, José Saramago.

Trecho de "Claraboia" (Companhia das Letras, 2011): O Livro Perdido de Saramago.  I Por entre os véus oscilantes que lhe povoavam o sono, Silvestre começou a ouvir rumores de loiça mexida e quase juraria que transluziam claridades pelas malhas largas dos véus. Ia aborrecer-se, mas percebeu, de repente, que estava acordando. Piscou os olhos repetidas vezes, bocejou e ficou imóvel, enquanto sentia o sono afastar-se devagar. Com um movimento rápido, sentou-se na cama. Espreguiçou-se, fazendo estalar rijamente as articulações dos braços. Por baixo da camisola, os músculos do dorso rolaram e estremeceram. Tinha o tronco forte, os braços grossos e duros, as omoplatas revestidas de músculos encordoados. Precisava desses músculos para o seu ofício de sapateiro. As mãos, tinha-as como petrificadas, a pele das palmas tão espessa que podia passar-se nela, sem sangrar, uma agulha enfiada. Num movimento mais lento de rotação, deitou as pernas para fora da cama. As coxas magras e

"Para não parar de Ler": José Saramago.

Disse Caim a Jeová: A minha punição é maior do que a que se pode suportar. (Gênesis) CAIM  (José Saramago, 2009) "(...) Quando o senhor, também conhecido como deus, se apercebeu de que a adão e eva, perfeitos em tudo o que apresentavam à vista, não lhes saía uma palavra da boca nem emitiam ao menos um simples som primário que fosse, teve de ficar irritado consigo mesmo, uma vez que não havia mais ninguém no jardim do éden a quem pudesse responsabilizar pela gravíssima falta, quando os outros animais, produtos, todos eles, tal como os dois humanos, do faça-se divino, uns por meio de mugidos e rugidos, outros por roncos, chilreios, assobios e cacarejos, desfrutavam já de voz própria. Num acesso de ira, surpreendente em quem tudo poderia ter solucionado com outro rápido fiat, correu para o casal e, um após outro, sem contemplações, sem meias-medidas, enfiou-lhes a língua pela garganta abaixo. Dos escritos em que, ao longo dos tempos, vieram sendo consignados um pouco a

Terra, Território e Narrativa.

Capa do Livro Terra de Sebastião Salgado (Cia das Letras, 1999) Terra, território e narrativa: O massacre de Eldorado dos Carajás. Onde você estava no dia 17 de abril de 1996? Pense bem e responda se conseguir lembrar. Parece que as nossas tragédias sociais e nacionais são facilmente esquecidas, seja pelo próprio excesso de tragédias ou pelo nosso esquecimento alienante de cada dia. No dia 17 de abril de 1996, 19 trabalhadores sem-terra foram cruelmente assassinados durante uma  marcha em protesto contra a demora da desapropriação de terras  no sul do Pará, no município de Eldorado dos Carajás.  Em 1997, numa iniciativa esteticamente ética, o fotógrafo Sebastião Salgado teve a concepção do livro "Terra"  que foi lançado em 1999 pela Companhia das Letras. O livro conta com imagens  chamadas pelo próprio Sebastião Salgado de "fotografias militantes". Essas fotografias foram tiradas no período de 1980 a1996 e narram as trajetórias de trabalhadores da terr

Livros Eletrônicos e Bibliotecas: Robert Darnton.

                            "Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavra sobre ele, interferir no mundo pela ação"                              Nesta entrevista (UNIVESPTV) , Robert Darnton, diretor da biblioteca de Harvard, fala sobre o futuro do livro num mundo em que se observa a massificação da internet e a popularização dos leitores eletrônicos. Autor de "A questão dos livros" e implementando a "Digital Public Library of America", iniciativa que deve disponibilizar cerca de 2 milhões de livros a partir de 2012 pela internet, o historiador fala também do papel que as bibliotecas devem assumir num futuro próximo. Imperdível para professores, pesquisadores e leitores!

Lerletras e passarinhos.

letra, desenho e gente – nessas e tantas desordens pássaros nos peitoris, pitombas azedinhas mulheres quebrando cocos de babaçu água de cachoeira e mar verbos e sussurros... o tempo que veloz passa e o tempo que e-terno chega crianças barulhentas nos pátios das escolas crianças trancadas em condomínios de pouca alegria correntes que se arrastam nos corredores das cadeias humanas as chagas da alma no corpo... as estações: se vai chover ou fazer frio... luz, sombra, fogos de artifícios, nuvens, posições do sol, da Terra, de Marte mapas, cartas, telegramas urgentes, bilhetinhos de amor roupas no varal, sonhos, cicatrizes, mãos que se abraçam o vento e a esperança Ler nos olhos das palavras... Ler de tudo e até do silêncio. O que for da experiência. O que não for do veto... O veto? Ler também. Lerletras, desenho e gente – nessas e tantas desordens Patrícia Porto "Se procurar bem você acaba encontrando.  Não a explicação (duvidosa) da vida.