A Maior Flor do Mundo,
José Saramago.
Logo na primeira página, sai o menino pelos fundos do quintal, e, de árvore em árvore, como um pintassilgo, desce ao rio e depois por ele abaixo, naquela vagarosa brincadeira que o tempo alto, largo e profundo da infância a todos nós permitiu... (...)
Em certa altura, chegou ao limite das terras até onde se aventura sozinho. Dali para diante começava o planeta Marte, efeito literário de que ele não tem responsabilidade, mas com que a liberdade do autor acha poder hoje aconchegar a frase. Dali para diante, para o nosso menino, será só uma pergunta sem literatura: “Vou ou não vou?” E foi.
As palavras de Saramago expressam um tempo subjetivo e cirandeiro, o tempo largo pertencido à infância. O narrador nos conta a história de um menino que por meio de uma janela pôde vislumbrar o mundo com seus “olhinhos” de desejo e vendo este mundo e toda sua riqueza de cores e acontecimentos, tornou-se um ‘buscador’ de algo mais, algo mais a bulir na alma, a mover o desejo de conhecer, de superar, de transgredir ultrapassando limites internos e externos. Assim, ao se permitiu ir pela amplidão dos lugares da infância, ele encontrou a sua flor, a maior flor do mundo, a flor que o libertava do ritual da jornada: precisava crescer para poder voltar para casa. (...)
Como o menino do conto de Saramago, quantas vezes saímos da casa de nossos pais, avós, saímos do nosso vilarejo, da nossa província, do nosso território, da nossa cidade e até mesmo da terra que consideramos nossa pátria - para compreender algo maior que o nosso próprio tamanho? Saímos para nos deparar e tentar compreender nossos desejos, nossas atrações, nossas punções, volições, nossas vontades mais profundas, nossa mesma profundidade. (PORTO, Patricia. Narrativas memorialísticas: Por uma arte docente na escolarização da literatura. )
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