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Por ser criança.

Imagem: Henri Cartier-Bresson                        (Bartolomeu Campos de Queirós)                Por ser ainda criança, também seu olhar é jovem. E por ser criança, ela tem a fantasia como instrumento para explicar o mundo. E com desmedo da liberdade, guiada pela espontaneidade, ela invade tudo que seu olhar alcança sem duvidar de seu entendimento. A fantasia é sua verdade. Mas não é fácil ser criança. O mundo é muito vasto e a vida, muito pequena. Há ilimitadas coisas para suspeitar e muitas para adivinhar. As cores trocam de nuances, as nuvens se movem sempre, os sons trocam de tons, o dia se faz noite, as estrelas dormem com a luz do sol, as chuvas caem do nada, a curiosidade pela língua dos animais, o trajeto incontrolável do tempo e o vazio vão até o muito longe. E o mais difícil em ser criança é desentender o porquê da dor, desconhecer onde a boca busca o sorriso, porque a lágrima é de sal, não saber o percurso do mundo, onde vivia o sonho antes de ser sonhado, e quem de

O discurso oral e as possibilidades de diálogo entre Literatura e História.

(Trechos do Livro: Narrativas Memorialísticas por uma arte docente na Escolarização da Literatura) Patrícia de Cássia Pereira Porto A literatura é vida e a história foi vida real no tempo em que não era história. ...tudo quanto não for vida, é literatura. A história também. A história, sobretudo, sem querer ofender. (José Saramago - História do Cerco de Lisboa)             João do Rio, grande cronista carioca do início do século XX, costumava trazer para as suas crônicas, personagens reais. Era de seu costume como um bom flâneur, andar pelas ruas do Centro da cidade do Rio de Janeiro, observando os transeuntes, os trabalhadores de rua: os ambulantes, os homens-sanduíches, as prostitutas, os malandros da Lapa, os artistas da noite:              Eu amo a rua. Esse sentimento e natureza toda íntima não vos seria revelado por mim se não julgasse, e razões não tivesse para julgar, que este amor assim absoluto e assim exagerado é partilhado por todos vós. Nós somos irmãos, nós nos

O luto e a luta contra novos preconceitos.

                          Depois da tragédia abominável ocorrida na Escola Tasso da Silveira, em Realengo, vários canais de televisão começaram a traçar – com ajuda de vários especialistas – um provável perfil de Wellington, que matou cruelmente e friamente doze crianças e feriu mais doze. Nas mesas de debate, algumas teclas tem sido insistentemente batidas e dizem respeito às caracteristicas desse perfil, como “esquisito”, “estranho”, “muito tímido”, “reservado”, ter sofrido bullying na escola, ser adotado, ler sobre o Islã, ser filho de "uma doente mental" etc. “Em quatro anos não ouvi mais de três palavras, frases, ditas por ele”, “vinha do trabalho pra casa e ficava no computador”, “era isolado”... Pergunto então: quantas pessoas com duas, três, quatro características deste perfil você conhece ou conheceu? Eu estou incluída no mínimo em quatro dessas características. Trabalho com crianças há mais de quinze anos. Deveriam começar a me vigiar, pois talvez eu seja uma louca

Um trato amoroso contra a pedagogia da “palmatória verbal”.

Há bons anos passados, quando fazia uma pesquisa para a minha dissertação de mestrado, colhendo relatos de professores – ainda que de forma confusa, me deparei com esta expressão bastante peculiar: “(...)então eu uso a palmatória verbal”. Nenhuma pretensão aqui de colocar em análise a fala apartada de seu contexto original, pois seria algo, no mínimo, leviano. Porém a expressão, a força que trafega nela, é como a própria violência em forma de signo e, certamente, merece não apenas esta reflexão, mas outras mais consistentes. Mas se me aventuro por ora na compreensão do termo, creio que seja preciso certo despudor com as palavras, principalmente no que diz respeito a uma situação ontológica, aquela que revela em imagem, a criação e a manipulação do signo. Para tentar compreender uma metáfora é preciso adentrar nos interditos da linguagem, talvez criando com ela uma nova consciência. Assim uma imagem, ainda turva, e que surge de uma expressão como “palmatória verbal”, pode vir a desenc

Eventos do Dia Mundial de Conscientização do Autismo 2011

Eventos do Dia Mundial de Conscientização do Autismo 2011 Para download: http://www.revistaautismo.com.br/revistaautismo0.pdf

Lerletras e passarinhos.

letra, desenho e gente – nessas e tantas desordens pássaros nos peitoris, pitombas azedinhas mulheres quebrando cocos de babaçu água de cachoeira e mar verbos e sussuros... o tempo que veloz passa e o tempo que e-terno chega crianças barulhentas nos pátios das escolas crianças trancadas em condomínios de pouca alegria correntes que se arrastam nos corredores das cadeias humanas as chagas da alma no corpo... as estações: se vai chover ou fazer frio... luz, sombra, fogos de artifícios, nuvens, posições do sol, da Terra, de Marte mapas, cartas, telegramas urgentes, bilhetinhos de amor roupas no varal, sonhos, cicatrizes, mãos que se abraçam o vento e a esperança Ler nos olhos das palavras. Ler de tudo e até do silêncio. O que for da experiência. O que não for do veto... O veto? Ler também. Lerletra, desenho e gente – nessas e tantas desordens. Patricia Porto

Ler devia ser proibido.

LER DEVIA SER PROIBIDO Guiomar de Grammont A pensar fundo na questão, eu diria que ler devia ser proibido. Afinal de contas, ler faz muito mal às pessoas: acorda os homens para realidades impossíveis, tornando-os incapazes de suportar o mundo insosso e ordinário em que vivem. A leitura induz à loucura, desloca o homem do humilde lugar que lhe fora destinado no corpo social. Não me deixam mentir os exemplos de Don Quixote e Madamme Bovary. O primeiro, coitado, de tanto ler aventuras de cavalheiros que jamais existiram, meteu-se pelo mundo afora, a crer-se capaz de reformar o mundo, quilha de ossos que mal sustinha a si e ao pobre Rocinante. Quanto à pobre Emma Bovary, tomou-se esposa inútil para fofocas e bordados, perdendo-se em delírios sobre bailes e amores cortesãos. Ler realmente não faz bem. A criança que lê pode se tornar um adulto perigoso, inconformado com os problemas do mundo, induzido a crer que tudo pode ser de outra forma. Afinal de contas, a leitura desenvolve um poder