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Livro "Outros Cantos" e a estética da sobrevivência.

                               Há narrativas-correntezas tão fortes que nos fazem mergulhar no outro que também somos. Parece algo muito fora de nós a princípio, dada a vertigem do encontro, mas vamos entendendo no percurso da leitura que é realmente da nossa intimidade que se alimenta, da nossa imediata identificação,dessa afinidade aguda que pode até mesmo nos interrogar e que se lastreia para dentro, nos investigando os porões, revirando os guardados, revelando vozes segredadas, aquelas que não cuidamos de registrar e que vão se misturando ao chão da vida, trajetórias de leituras que nos escapam... E é partindo deste princípio, do meu lugar de leitora e educadora, ambas encantadas, que ofereço uma modesta contribuição de olhar a "Outros Cantos" de Maria Valéria Rezende. Porque, se nos encantamos e ainda não fomos castrados nesta habilidade, é pelo olhar curioso, visitado por outros sentidos, que n...

Pensando a Literatura Infantil: Entrevista com Peter Hunt

Peter Hunt: 'Um bom livro infantil é feito de respeito' Moral da história: livro para criança não tem que ter final feliz. Precisa, sim, estar cheio de fantasia, ser inovador, diferente, instigante, subversivo. Quem lista os segredos da boa narrativa é um dos maiores estudiosos mundiais da literatura infantil, o inglês Peter Hunt, fundador e professor da cadeira na Cardiff University, na Grã-Bretanha. Pai de quatro filhas, todas ótimas leitoras, garante, Hunt diz que livro infantil não pode ser igual à comida fast-food, "que satisfaz de imediato mas está longe de ser a opção mais saudável". No Brasil para fazer nesta quinta-feira, às 15h, uma palestra no auditório American Express da PUC-Rio, durante o seminário Crítica, Teoria e Literatura Infantil no Brasil e no Mundo, Hunt aproveita para logo depois autografar “Crítica, teoria e literatura infantil” (Ed. Cosac Naify). O livro, lançado em 1991, "numa época em que se lutava arduamente para provar a im...

Um Projeto Monstruoso

               Imaginem como seria transformar os desenhos das crianças em seres animados? É o que o "The Monster Project faz e com a colaboração das crianças e de muitos artistas. Transformando seres imaginários, desenhados por crianças, numa galeria de desenhos e animações, eles criaram um painel real e virtual de monstros incríveis. Conheça o site do projeto e divirta-se incentivando suas crianças pequenas e grandes a desenharem. O desenho é uma das mais formas mais divertidas de expressar o mundo, externo e interno. Vamos liberar nossos monstrinhos!    Site: http://themonsterproject.org/     

Narrativas Memorialísticas: Leitura Literária na Escola

Release do Livro Lançamento na Amazon www.amazon.com En contrando inspiração em escritores como Pedro Nava, a autora inaugura um caminho que une o rigor do texto acadêmico com a ousadia que só o texto literário permite – originalidade que levou este livro, quando ainda era tese, a ser finalista do Prêmio CAPES. A partir de depoimentos de professores, Patrícia Porto compõe um quadro em que o ensino da literatura pode (e deve) se confundir com a própria literatura. Sem abrir mão da investigação epistemológica, a autora possibilita que os professores de literatura contem suas histórias, reflitam sobre suas vidas e revisitem seus primeiros encontros com a arte da escrita. São depoimentos e histórias de vida que levam a autora a promover um rico diálogo entre cultura oral, literatura e folclore e a demonstrar como tudo isso pode ser reunido, com leveza, graça e entusiasmo dentro da sala de aula. Sim, porque o livro também trata da prática, do dia a dia, do chamado “chão d...

Para alfabetizar letrando

Ser alfabetizado não é ser livre; é estar presente e ativo na luta pela reivindicação da própria voz, da própria história e do próprio futuro. Henry A. Giroux O livro é passaporte, é bilhete de partida. Bartolomeu Campos Queirós               Durante muitas décadas, e já na República do Brasil, a alfabetização, principalmente para as crianças e para os adultos das classes populares foi vista, pensada  e desenvolvida através de métodos tradicionais e de práticas escolares que estavam centradas numa concepção que limitava a alfabetização à idéia de uma determinada aquisição do código linguístico que passava unicamente pelo uso da cartilha e da palavração sem sentido: “o dente do elefante” , “Eva viu a uva”, “o coelho come repolho”... Quem foi alfabetizado com a cartilha “Caminho Suave” talvez não lembre, mas num dos exercícios - para escrever sobre o “n” pontilhado, podia ser lida a seguinte frase ao lado da letra: “A fum...

Da Arte de aprender.

           (Para pais e educadores)                    Ser mãe, pai de alguém exige, logo de início, três idades: matur-idade, sensibil-idade, gêneros-idade. Você se torna pai e mãe de alguém quando, aos poucos, percebe que vai precisar por um bom período da vida cuidar mais de outra pessoa que de si mesmo, e como na oração de São Francisco aprende que pode amar muito mais do que ser amado e que pode perdoar mais que esperar ser perdoado. É por vezes aquele fogo esplêndido que nos torna divinos, próximos do alto e do ato de toda criação humana. E também é o abismo a engolir nossos pés, a nos revelar sobre a superfície sombria que há no diálogo com as pedras e que nos faz plenos do humano que vive dentro de nós.           Ter filhos não é e nem se pode comparar com plantar uma árvore ou escrever um livro. Eu que já fiz os três sei por pele à flor que “filhos” superam as...

Feliz 2017!

Para pais e educadores. Esta crônica foi escrita há tempos. Mas ficou muito atual com os acontecimentos deste ano de 2016. Entre flores e feridas.                                             Quem já se sentiu vítima de um gesto, uma palavra, um olhar de intolerância sabe à flor da pele o quanto isso faz doer. E talvez tenha aprendido pela dor que a melhor resposta possível é uma resposta política: a luta, a luta pacífica - e não passiva - pelos direitos e pelos “deveres” dos homens. Um clichê dentro do outro seria dizer que desde que o mundo é mundo, os seres humanos exercem a nem sempre sutil “intolerância” - para humilhar, negar, apartar, desprezar o outro. E nada é tão difícil de tolerar que a própria intolerância. Diríamos também que é uma herança complexa de nossa vida coletiva se levarmos em conta toda a nossa história pelo mundo, tão marcada por ações e reaçõe...