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Mostrando postagens de dezembro, 2017

Do Encontro entre o Amor e a Resistência: O indizível sentido do amor

          “Tudo isto realizo no imenso palácio da memória. Aí estão presentes o céu, a terra e o mar com todos os pormenores que neles pude perceber pelos sentidos, exceto os que já esqueci. É lá que me encontro a mim mesmo, e recordo as ações que fiz, o seu tempo, lugar, e até os sentimentos que me dominavam ao praticá-las” (Santo Agostinho) Há textos que nos provocam um sentimento tão grave de similitude que tomar distância dele vai exigir alguns dias de esforço. Foi a sensação que tive ao terminar de ler o romance de Rosângela Viera Rocha, “O indizível sentido do amor”.  Lembro de Leonardo Boff quando diz que “cada um lê com os olhos que tem. E interpreta a partir de onde os pés pisam”. Uma resenha é feita a partir dos olhos de quem lê, mas meus olhos de memorialista, meus olhos de poeta, os meus olhos de maranhense e ativista política, como poderiam ler o livro de Rosângela Vieira Rocha, distanciados da guerrilha, da resistência, da memór...

A Poesia de Carlos Orfeu: O desassossego e a invenção nos (in)visíveis

O desassossego e a invenção nos (in)visíveis /por Patrícia Porto/ Essa trapaça salutar, essa esquiva, esse logro magnífico que permite ouvir a língua fora do poder, no esplendor de uma revolução permanente da linguagem, eu a chamo, quanto a mim: literatura.  Roland Barthes nas paredes em despudor de silêncio a litania do invisível no cio do limo a sinfonia do mofo lavra o segredo da rachadura          É nas trincheiras da arte poética do cotidiano que encontraremos novos signos de resistência estética para a poesia. Prova disso é o livro de estreia de Carlos Orfeu, “(in)visíveis cotidianos”, que se desdobra páginas-corpo-poemas em múltiplos olhares que atentam para os “pequenos nadas”, expressão tão bem criada por Michel Maffesoli. Não foi à toa que a leitura das cenas cotidianas, dos frames que o poeta nos apresenta em versos densos e concisos, me levou a dialogar com lugares que refletem a relação entre o poder e o coti...

INTERROMPIDOS, MAS PERMANENTES

“Ouvi todas as coisas no céu e na terra. Ouvi muitas coisas no inferno.  Como então posso estar louco?” […] Edgar Allan Poe   Ainda na contemporaneidade, Edgard Allan Poe, Piglia, Borges, Cortazar... são alguns nomes que influenciaram o que podemos entender como crítica do conto. Guardando cada qual sua peculiaridade teórica, convergiam na ideia do poder da síntese associado à qualidade literária. No mais, a teoria do conto é um caldo repleto de considerações teóricas completamente opostas e até díspares. Uma das significativas definições de conto foi defendida por Cortazar e diz perto ao apelo à síntese dessa narrativa: Mas se não tivermos uma ideia viva do que é o conto, teremos perdido tempo, porque um conto, em última análise, se move nesse plano do homem onde a vida e a expressão escrita dessa vida travam uma batalha fraternal, se me for permitido o termo; e o resultado dessa batalha é o próprio conto, uma síntese viva ao mesmo que uma vida...

Começa em Mar - Uma leitura

É intensa e infinita a infância, rua de onde não se sai de todo.  Nublagem feito sombra que entranha, quase víscera.  Da infância ninguém se recupera  totalmente.  (Começa em Mar, p 132) Não costumo chamar de resenha o que se faz de forma tão intimista e confessional. Acredito que seria melhor chamar de leitura ou carta, uma carta que envio para a escritora de um certo além-mar, autora de um dedilhar poético que comunga exílios com memórias de sal, as que nos noticiam da nossa própria formação identitária. Na minha leitura que começa antes do livro, o Mar, ou melhor, a Mar começou por um encontro entre Porto e Mar-anha. Porque o Porto se encontra é no Mar. E o primeiro contato com Vanessa Maranha se deu através do Mar, das águas e da ilha. Eu tinha feito um comentário no grupo do "Mulherio das Letras" - sobre a nossa líquida forma de existência e insistência em ser mulher, de como nós nos fazíamos de líquidos, liquefeitas das águas que marcavam noss...